Um Homem só envelhece quando seus lamentos substituem seus sonhos.



Sonhar é o objeto inanimado que mantém a vontade de viver do Homem. Sonhando criamos um estado de prazer que nos faz desenvolver objetivos, metas e planejamento, ou seja, um processo de concretização do sonho. E vivenciar este momento de criação merece respeito, pois será deste estalo de criatividade, particular ou global, que daremos corpo e personalidade à vida. Sendo este corpo a matéria física que nos permite novos sonhos e as emoções.

Um sonho nunca é construído; ele sempre está pronto. Precisamos apenas buscá-lo ou esperar o momento em que ele irá se apresentar e, a partir do pensamento, que é um misto de felicidade, necessidade e vontade é que devemos assumir tal sonho como desejo e criar um objetivo para vivermos na realidade Por isso devemos construir nossos desejos e viver os sonhos. Um elo inseparável faz o sonho e o desejo ser a realidade de cada suspiro.

Já o lamento, que o ditado diz envelhecer o Homem, pode então ser compreendido como sonhos não realizados. Lamentar é um processo natural. Lamentamos por tudo e com tudo, lamentamos sem saber a razão. Perder e não realizar nossos desejos gera o lamento, que se torna a conseqüência dos atos não vivenciados. O lamentar não deve ser excluído da vida, assim como a tristeza não deve ser ignorada. Seus antônimos só existem porque existe o lamento e a tristeza.

Toda vez que escrevo e começo a reler o texto tenho a impressão de estar glorificando a nostalgia, mas percebo que o texto cria ramos e acabo tomando alguns para direcionar e expor os meus pensamentos. E quando tento explicar que o lamento é necessário para termos o sentimento zen da felicidade não consigo deixar de expor a idéia de que vivenciar o lamento é uma conseqüência de um desejo pela felicidade individual não alcançada. E sentindo que somente o desejo de ser feliz já me torna feliz, o lamento passa ser apenas um suco de limão passado que ficou amargo. Para solucionar isso basta colocar a mão nos limões e fazer um novo suco.

Além de ser possível é preciso sonhar para termos idéias e com elas concretizarmos nossos desejos. Então chega de falar de lamento e de sonhos. Quero realidade, quero sentir uma variedade de emoções e momentos. Quero partilhar e receber. Quero cozinhar e acertar no paladar. Quero brincar e festejar com o Arlequim.

Arlequim Gourmet, um personagem ainda não compreendido na cozinha. Uma cozinha ainda não compreendia, mas experimentada. Não é experimental, nem real: é fato. É ser versátil, é brincar com a brincadeira das pessoas. É ser bom, melhor, máximo e, com isso, lavar as panelas com o sentimento da felicidade e do lamento dos sonhos dos convidados. Arlequim é simplesmente vários sabores, aromas, texturas, sons e imagens. Gourmet é o real. Arlequim Gourmet é a alquimia do desejo com a realidade.

Seja por necessidade, vontade, capricho e principalmente pelo sonho, o Arlequim se instala na minha cozinha e toma conta do meu espaço, do meu trabalho. Hoje, Cozinha. Amanhã, sala, bar, sala de jantar, festa, comemoração, paixão.

Sonhar? Claro. Envelhecer? Também. Lamentar? Apenas quando necessário. Mas envelhecer com o lamento é o mesmo que perceber que a brincadeira de sonhar e a realidade de desejar chegaram ao fim. E agora: existe algum momento que conseguimos não pensar em nada? Não viver nada? Não esperar por nada? Não sonhar com nada?
Música: Pierrô apaixonado - Maria Bethânia